segunda-feira, 12 de novembro de 2012

O que pode estar por trás do comportamento de uma criança


Antes de chamar uma criança de preguiçosa ou desatenta, reflita sobre o que pode estar por trás do seu comportamento


No dia 8 de novembro, pelas 21h00, a Escola Secundária de Casquilhos teve o prazer de receber o Dr. Nuno Lobo Antunes como palestrante da sessão “Insucesso Escolar”.
Professora Isabel Lopes (Coordenadora do PES da ESC), Dr. Nuno Lobo Antunes, Professor Jorge Paulo Gonçalves (Diretor da ESC) 

Este evento foi promovido pelo Projeto de Educação para a Saúde da ESC e contou com o apoio da Associação de Pais e Encarregados de Educação para a sua divulgação, tendo trazido à Escola Secundária de Casquilhos elementos de várias instituições de ensino e de saúde do concelho do Barreiro.

Embora haja a tendência para pensar que estas patologias são recentes, ou seja, das sociedades modernas, o que se passa é que são mais frequentemente diagnosticadas, não tendo necessariamente uma maior ocorrência comparativamente ao passado. Na sociedade moderna há uma série de fatores que revelam estas patologias que antes passavam despercebidas: as famílias têm menos filhos, o que permite prestar mais atenção a cada um deles; o percurso escolar é mais longo e mais competitivo, tornando evidentes as “incapacidades” de algumas crianças; o sucesso escolar tornou-se preponderante para assegurar o futuro profissional dos jovens e as notas académicas são frequentemente consideradas como o reflexo da competência ou incompetência dos pais e educadores, o que leva a uma maior preocupação por parte destes relativamente às eventuais causas do insucesso escolar. As famílias estão, portanto, mais atentas.

Ao realizar estas sessões, o Dr. Nuno Lobo Antunes assume a tarefa de ajudar as famílias e os educadores a identificar situações em que possa existir uma patologia de âmbito neurológico, possibilitando o seu diagnóstico atempado e a minimização das suas consequências. Estando devidamente informados e atentos, os pais e educadores poderão interagir com estas crianças de forma mais adequada, impedindo a escalada de sentimentos que podem ter consequências muito negativas na sequência da perda de autoestima e da sensação de incompetência.

Foram então apresentadas quatro patologias que impedem o sucesso escolar na forma em que o conhecemos, ou seja, impedem a obtenção de “boas notas”. 
Fica aqui um breve resumo daquilo que foi transmitido sobre cada uma dessas patologias, na expetativa de que possa alertar e sensibilizar outros intervenientes na educação das crianças para além daqueles que tiveram a possibilidade de assistir a esta sessão.

Défice cognitivo: o QI da criança é igual ou inferior a 70. A idade mental da criança é inferior à sua idade biológica e este afastamento torna-se mais evidente à medida que a idade avança, tendo, por isso, impactos distintos ao longo das fases de desenvolvimento. Nestes casos é importante considerar currículos escolares alternativos, pois as competências que uma criança com défice cognitivo pode adquirir serão sempre muito inferiores às dos seus pares. Para os pais, o aspeto mais difícil nesta patologia poderá ser o de conseguir o equilíbrio ideal entre dar à criança a proteção necessária e permitir-lhe a liberdade suficiente para a experimentação, em especial na fase da adolescência.

Défice de atenção com ou sem hiperatividade: Nos rapazes, o DA ocorre maioritariamente associado à hiperatividade, mas nas raparigas acontece o contrário. Isto causa um atraso de 2 a 3 anos no diagnóstico do DA no caso das raparigas. 5 a 7 por cento da população escolar sofre de défice de atenção. A hiperatividade desaparece na fase da adolescência, mas não significa que o DA também desapareça. O défice de atenção e hiperatividade pode ter impactos muito significativos, como o aumento da incidência de acidentes nestas crianças, o divórcio frequente dos pais e o maior risco de consumo de drogas. Não havendo um marcador biológico que permita a identificação desta patologia, o diagnóstico é clínico, sendo fundamental o papel dos professores na avaliação: esta criança tem ou não mais dificuldade em se focar numa tarefa que lhe exija esforço mental do que as crianças da mesma idade? De uma forma geral, pode dizer-se que existe um DA quando provoca sofrimento na criança e a impede de atingir o seu potencial de desenvolvimento e aprendizagem. Tendo em conta a dimensão dos impactos negativos desta patologia, deve ponderar-se o tratamento farmacológico.

Síndroma de Asperger: As crianças com esta patologia apresentam grandes dificuldades na interação social. São muito bons alunos nas disciplinas de que gostam e muito maus nas que não lhes suscitam interesse. Têm interesses limitados que vão variando ao longo do seu desenvolvimento; os seus comportamentos são rotineiros; apresentam peculiaridades do discurso e da linguagem, usando muitas vezes vocabulário elaborado; têm dificuldade para entender a linguagem subjetiva e as emoções; apresentam descoordenação motora; interrompem as conversas e não percebem quando estão a maçar ou a ser inconvenientes. Estas crianças são frequentemente vítimas de bullying, pois tendem a isolar-se dos seus pares. Têm dificuldade em construir amizades, uma vez que os seus interesses diferem dos das restantes crianças da mesma idade. O seu raciocínio é predominantemente lógico e, por isso, necessitam de muito apoio para a compreensão de conceitos abstratos e do comportamento adequado para cada situação/interação social.

Dislexia: As crianças disléxicas apresentam um conjunto alargado de dificuldades de aprendizagem dos processos de leitura e escrita de origem neurológica. A escrita surge com muitos erros ortográficos, com trocas fonológicas e/ou lexicais e os resultados escolares não são condizentes com a capacidade intelectual. Estas crianças tende a apresentar melhores resultados nas avaliações orais do que nas escritas. Sentem-se muitas vezes frustradas por não conseguirem atingir o seu potencial ou por não conseguirem corresponder às expetativas dos pais e educadores, apresentando uma baixa autoestima. É fundamental um diagnóstico precoce e uma intervenção adequada por parte de pais e educadores.

Avaliar antes de julgar!


Citando as palavras do Diretor da ESC, o professor Jorge Paulo Gonçalves, “agradecemos a todos os que, a meio da semana, à noite, se deslocaram à Escola Secundária de Casquilhos para assistir a esta sessão” e que encheram a nossa Biblioteca.

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