Antes de chamar uma criança de preguiçosa ou desatenta, reflita sobre o que pode estar por trás do seu comportamento
Este
evento foi promovido pelo Projeto de Educação para a Saúde da ESC e contou com
o apoio da Associação de Pais e Encarregados de Educação para a sua divulgação,
tendo trazido à Escola Secundária de Casquilhos elementos de várias instituições
de ensino e de saúde do concelho do Barreiro.
Embora haja a tendência para pensar que estas patologias são
recentes, ou seja, das sociedades modernas, o que se passa é que são mais
frequentemente diagnosticadas, não tendo necessariamente uma maior ocorrência
comparativamente ao passado. Na sociedade moderna há uma série de fatores que
revelam estas patologias que antes passavam despercebidas: as famílias têm
menos filhos, o que permite prestar mais atenção a cada um deles; o percurso escolar
é mais longo e mais competitivo, tornando evidentes as “incapacidades” de
algumas crianças; o sucesso escolar tornou-se preponderante para assegurar o
futuro profissional dos jovens e as notas académicas são frequentemente
consideradas como o reflexo da competência ou incompetência dos pais e
educadores, o que leva a uma maior preocupação por parte destes relativamente
às eventuais causas do insucesso escolar. As famílias estão, portanto, mais
atentas.
Ao realizar estas
sessões, o Dr. Nuno Lobo Antunes assume a tarefa de ajudar as famílias e os
educadores a identificar situações em que possa existir uma patologia de âmbito
neurológico, possibilitando o seu diagnóstico atempado e a minimização das suas
consequências. Estando devidamente informados e atentos, os pais e educadores
poderão interagir com estas crianças de forma mais adequada, impedindo a
escalada de sentimentos que podem ter consequências muito negativas na
sequência da perda de autoestima e da sensação de incompetência.
Foram então apresentadas quatro patologias que impedem o
sucesso escolar na forma em que o conhecemos, ou seja, impedem a obtenção de
“boas notas”.
Fica aqui um breve resumo daquilo que foi transmitido sobre cada
uma dessas patologias, na expetativa de que possa alertar e sensibilizar outros
intervenientes na educação das crianças para além daqueles que tiveram a
possibilidade de assistir a esta sessão.
Défice cognitivo:
o QI da criança é igual ou inferior a 70. A idade mental da criança é inferior
à sua idade biológica e este afastamento torna-se mais evidente à medida que a
idade avança, tendo, por isso, impactos distintos ao longo das fases de
desenvolvimento. Nestes casos é importante considerar currículos escolares
alternativos, pois as competências que uma criança com défice cognitivo pode
adquirir serão sempre muito inferiores às dos seus pares. Para os pais, o
aspeto mais difícil nesta patologia poderá ser o de conseguir o equilíbrio
ideal entre dar à criança a proteção necessária e permitir-lhe a liberdade
suficiente para a experimentação, em especial na fase da adolescência.
Défice de atenção com
ou sem hiperatividade: Nos rapazes, o DA ocorre maioritariamente associado
à hiperatividade, mas nas raparigas acontece o contrário. Isto causa um atraso
de 2 a 3 anos no diagnóstico do DA no caso das raparigas. 5 a 7 por cento da
população escolar sofre de défice de atenção. A hiperatividade desaparece na
fase da adolescência, mas não significa que o DA também desapareça. O défice de
atenção e hiperatividade pode ter impactos muito significativos, como o aumento
da incidência de acidentes nestas crianças, o divórcio frequente dos pais e o
maior risco de consumo de drogas. Não havendo um marcador biológico que permita
a identificação desta patologia, o diagnóstico é clínico, sendo fundamental o
papel dos professores na avaliação: esta criança tem ou não mais dificuldade em
se focar numa tarefa que lhe exija esforço mental do que as crianças da mesma
idade? De uma forma geral, pode dizer-se que existe um DA quando provoca
sofrimento na criança e a impede de atingir o seu potencial de desenvolvimento
e aprendizagem. Tendo em conta a dimensão dos impactos negativos desta
patologia, deve ponderar-se o tratamento farmacológico.
Síndroma de Asperger:
As crianças com esta patologia apresentam grandes dificuldades na interação
social. São muito bons alunos nas disciplinas de que gostam e muito maus nas
que não lhes suscitam interesse. Têm interesses limitados que vão variando ao
longo do seu desenvolvimento; os seus comportamentos são rotineiros; apresentam
peculiaridades do discurso e da linguagem, usando muitas vezes vocabulário
elaborado; têm dificuldade para entender a linguagem subjetiva e as emoções;
apresentam descoordenação motora; interrompem as conversas e não percebem
quando estão a maçar ou a ser inconvenientes. Estas crianças são frequentemente
vítimas de bullying, pois tendem a
isolar-se dos seus pares. Têm dificuldade em construir amizades, uma vez que os
seus interesses diferem dos das restantes crianças da mesma idade. O seu
raciocínio é predominantemente lógico e, por isso, necessitam de muito apoio
para a compreensão de conceitos abstratos e do comportamento adequado para cada
situação/interação social.
Dislexia: As crianças
disléxicas apresentam um conjunto alargado de dificuldades de aprendizagem dos
processos de leitura e escrita de origem neurológica. A escrita surge com
muitos erros ortográficos, com trocas fonológicas e/ou lexicais e os resultados
escolares não são condizentes com a capacidade intelectual. Estas crianças
tende a apresentar melhores resultados nas avaliações orais do que nas escritas.
Sentem-se muitas vezes frustradas por não conseguirem atingir o seu potencial
ou por não conseguirem corresponder às expetativas dos pais e educadores,
apresentando uma baixa autoestima. É fundamental um diagnóstico precoce e uma
intervenção adequada por parte de pais e educadores.
Avaliar antes de julgar!
Citando as palavras do Diretor da ESC, o professor Jorge
Paulo Gonçalves, “agradecemos a todos os que, a meio da semana, à noite, se
deslocaram à Escola Secundária de Casquilhos para assistir a esta sessão” e que encheram a nossa Biblioteca.
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